segunda-feira, 21 de março de 2011

Linguagem formal e informal*









Nossa língua apresenta uma imensa possibilidade de variantes lingüísticas, tanto na linguagem formal (padrão) quanto na linguagem informal (coloquial). Elas não são, assim, homogêneas. Especialmente no que se refere ao coloquial, as variações não se esgotam. Alguns fatores determinam essa variedade. São eles: 

• diferenças regionais: há características fonéticas próprias de cada região, um sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo. Por exemplo, a fala espontânea de um caipira difere da fala de um gaúcho em pronúncia e vocabulário;

• 
nível social do falante e sua relação com a escrita: um operário, de modo geral, não fala da mesma maneira que um médico, por exemplo;

• 
diferenças individuais.

É importante salientar que cada variedade tem um conjunto de situações específicas para seu uso e, de modo geral, não pode ser substituída por outra sem provocar, ao menos, estranheza durante a comunicação. O texto de Luis Fernando Veríssimo ilustra uma dessas situações inusitadas: 
Aí, Galera

 
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contra-golpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para a minha progenitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um, um...
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
- Estereoquê?
- Um chato?
- Isso.
Correio Braziliense, 13/05/1998.

Podemos concluir daí que cada variedade tem seus domínios próprios e que não existe a variedade “certa” ou “errada”. Para cada situação comunicativa existe a variante “mais” ou “menos” adequada. É certo, no entanto, que é atribuída à variante padrão um valor social e histórico maior do que à coloquial. Cabe, assim, ao indivíduo – competente lingüisticamente - optar por uma ou outra variante em função da situação comunicativa da qual participa no momento.

Por fim, citando Bechara (1999), a linguagem é sempre um estar no mundo com os outros, não como
um indivíduo em particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade.
 

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